Microplásticos sĂŁo pequenas partĂculas sĂłlidas de materiais baseados em polĂmero (ou seja, plásticos) com menos de cinco milĂmetros de diâmetro. AlĂ©m de levar milhares, ou atĂ© milhões de anos para se decompor, elas estĂŁo espalhadas por todo o planeta, inclusive na prĂłpria água potável.
Florida Sea Grant
O que são os microplásticos?
Existem duas categorias de microplásticos: primários e secundários. Os primários sĂŁo partĂculas projetadas para uso comercial, ou seja, produtos como cosmĂ©ticos, microfibras de tecidos e redes de pesca. Já os secundários resultam da quebra de itens plásticos maiores, como canudos e garrafas de água.
Essa quebra é causada pela exposição à radiação solar e as ondas do mar, entre outros fatores do meio ambiente. Em grande parte, tempestades, escoamento de água e ventos carregam plástico para nossos oceanos. Os produtos plásticos feitos para serem utilizados apenas uma vez são considerados a principal fonte de microplásticos secundários.
Microplásticos representam algum perigo?
Microplásticos sĂŁo pequenos pedaços de materiais baseados em polĂmeros (Imagem: Microgen/Envato Elements)
Os microplásticos já foram detectados em inĂşmeras espĂ©cies de vida marinha, do plâncton a baleias, mas o problema nĂŁo afeta apenas esses organismos — os plásticos já foram encontrados em frutos do mar comerciais e em água potável. Instalações padrĂŁo de tratamento de água nĂŁo podem remover todos os vestĂgios de microplásticos.
AlĂ©m disso, as partĂculas de polĂmero no oceano podem se ligar a outros produtos quĂmicos nocivos antes de serem ingeridos por organismos marinhos. Ainda nĂŁo se sabe muito sobre a extensĂŁo do problema, e o quĂŁo prejudicial essas partĂculas podem ser.
Para descobrir quais podem ser as consequências para a vida, os cientistas começaram a realizar experimentos em laboratórios antes mesmo de saberem que tipos de microplásticos existem em ambientes aquáticos. Por isso, eles dependiam muito de materiais como esferas de poliestireno, o que limitava o escopo do estudo.
Ao mudar para condições mais realistas e usar fibras ou fragmentos de plástico, os pesquisadores puderam ver o que provavelmente acontece nos rios e oceanos. AlĂ©m disso, eles revestiram os microplásticos com materiais que imitam biofilmes (conjuntos de micro-organismos emaranhados em uma matriz de polĂmero orgânico, formados pela deposição e aderĂŞncia de microrganismos em uma superfĂcie de contato).
Microplásticos podem vir de diferentes fontes e apresentar vários formatos (Imagem: Reprodução/Chesapeake Bay Program)
Com esse revestimento, os animais ficam mais propensos a comer as fibras de microplásticos, o que acabou revelando outro problema: as fibras demoram mais para passar pelos plânctons do que as esferas. Elas não são ingeridas, mas interferiam na natação e causam deformações no corpo dos organismos.
Quando os plânctons ficam expostos a fibras microplásticas, eles produzem metade do nĂşmero normal de larvas, e os adultos resultantes sĂŁo menores. Outros estudos descobriram que os caranguejos-toupeira-do-pacĂfico expostos a fibras tinham vidas mais curtas.
No inĂcio deste ano, foi detectada pela primeira vez a presença de microplásticos no sangue humano. NĂŁo sĂł isso, mas os cientistas encontraram as partĂculas em quase 80% das pessoas testadas. Elas podem viajar pelo corpo e se alojar em ĂłrgĂŁos, mas ainda nĂŁo se sabe ao certo o impacto na saĂşde.
Mesmo sem saber exatamente os riscos para seres humanos, os pesquisadores estĂŁo preocupados porque os microplásticos causam danos Ă s cĂ©lulas humanas testadas em laboratĂłrio. TambĂ©m já foram identificadas partĂculas em placenta humana e recĂ©m-nascidos e um estudo mais recente mostrou que o microplástico pode chegar ao cĂ©rebro dos fetos.
O futuro dos microplásticos no mundo
Ainda não há conhecimento sobre os riscos à saúde humana (Imagem: Reprodução/Oregon State University)
Ainda não parece haver microplásticos o suficiente para afetar seriamente a saúde humana, mas esse quadro pode mudar, e rápido. Em setembro de 2020, pesquisadores projetaram que a quantidade de plástico adicionada ao lixo existente a cada ano poderia mais que dobrar, indo de 188 milhões de toneladas (2016) para 380 milhões de toneladas (em 2040).
De acordo com a pesquisa, cerca de 10 milhões de toneladas desse lixo poderiam estar na forma de microplásticos, sem contar as partĂculas continuamente erodidas dos resĂduos já existentes. A boa notĂcia Ă© haver soluções comprovadas para reduzir a poluição plástica. A má notĂcia Ă© que elas devem ser ampliadas o mais rápido possĂvel.
Entre essas soluções, os cientistas como Winnie Lau, do Pew Charitable Trusts, em Washington, citam a mudança para sistemas de reutilização dos produtos plásticos, adoção de materiais alternativos e reciclagem. Com isso, a quantidade prevista de resĂduos plásticos para 2040 poderia reduzir drasticamente.
Fonte: Nature, National Geographic, The Guardian, Canaltech