Moeda poderá ser negociada pelo Mercado Pago e clientes receberão o token como cashback a cada compra
A plataforma de varejo on-line Mercado Livre lançou a sua própria criptomoeda, que funcionará como uma espécie de cashback para engajar a comunidade de usuários e fortalecer seu programa de fidelidade.
A cada compra, o cliente receberá uma quantidade de Mercado Coin que poderá ser usada para desconto em compras futuras, acumulada em seu perfil ou trocada por dinheiro, caso o cliente tenha conta no Mercado Pago.
Imaginamos uma adesão muito grande e engajamento no nosso programa de lealdade
, afirmou o presidente da Mercado Livre, Fernando Yunes.
O lançamento acontece hoje para 500 mil pessoas e vai, até o fim de agosto, ser expandido para toda base de clientes do Mercado Livre no Brasil. A moeda não expira e será apenas para as compras, não havendo mudanças no pagamento feito pela plataforma aos vendedores.
Além disso, como pode ser usada para descontos em compras, o cliente não precisa ter conta no Mercado Pago, a não ser que queira vender as criptomoedas, que serão negociadas exclusivamente nesse sistema.
Não há uma porcentagem definida de quantas criptomoedas serão obtidas em cada compra. Esse percentual será definido de acordo com a gestão comercial da plataforma. Por exemplo, em datas especiais, como Dia das Mães, Dia dos Pais ou Black Friday, os clientes poderão conseguir mais Mercado Coins em cada compra.
No futuro, segundo o executivo, a criptomoeda poderá ser levada a operações em outros países, mas ainda não há cronograma. A criptomoeda poderá, no futuro, transferir as Mercado Coins para outras carteiras de criptomoedas, mas também não há estimativa de quando.
A moeda lançada hoje começa cotada a US$ 0,10, mas seu valor irá variar de acordo com a oferta e demanda desse ativo dentro do ecossistema da varejista on-line. Como explica Guilherme Cohn, gerente sênior de desenvolvimento corporativo do Mercado Livre, a Mercado Coin não tem um lastro, pois não é uma “stablecoin”, como são chamadas as criptomoedas com paridade em divisas como o dólar. Isso significa que seu valor poderá variar, conforme oferta e demanda e interesse dos usuários.
Inicialmente não iremos listar a Mercado Coin em nenhuma 'exchange' externo. É um lançamento controlado. Temos um pool de liquidez centralizado para a moeda, com processos de 'know your client' em todos os passos
, afirma Cohn. Ele explica que foi criado um lote inicial que será distribuído à medida que as transações acontecem na plataforma e o Mercado Livre não influencia na cotação.
Não divulgamos agora o lote inicial, não é do nosso interesse fazer emissões de lote e isso afeta a cripto. Isso vai ser direcionado aos usuários à medida que houver demanda de cashback. Quanto mais se vende no Mercado Livre Brasil, mais haverá distribuição da Mercado Coin
, diz.
A Mercado Coin foi desenvolvida com a Ripio, uma provedora cripto as a service (CaS), que conecta ao ambiente do Mercado Pago, braço de serviço financeiro da Mercado Livre, e faz a custódia dessa criptomoeda.
Funciona como uma solução 'white label
, diz Cohn.
Atualmente, o Mercado Pago, serviço financeiro da Mercado Livre, já transaciona três criptomoedas Bitcoin (BTC), Ethereum (ETH) e Pax Dollar (USDP). "Já temos 2 milhões de usuários que transacionam criptomoedas dentro do Mercado Pago", observa Yunes, afirmando que a empresa, por ser "inovadora e de vanguarda deve entrar [no mercado de cripromoedas]". A empresa está usando a blockchain da Ethereum para criar o token, no padrão ERC20.
Cohn observa, ainda, que apesar de não haver regulação no Brasil para esse tipo de ativo, a empresa procurou adotar todas as boas práticas já disponíveis, incluindo as utilizadas em países que regulam as criptomoedas, bem como adotou protocolos extras de segurança e proteção de dados de acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados.
Para Bruno Diniz, especialista em ativos digitais da consultoria Spiralem, o ecossistema gigante do Mercado Livre, envolvendo milhares de lojistas e cerca de 80 milhões de clientes, justifica a criação de uma moeda digital própria. A iniciativa, disse ele, costuma ter sucesso de acordo com o engajamento dos usuários dentro de suas comunidades. Diniz cita os casos da Meta, que estudou no passado criar a sua própria moeda, e agora o Nubank, também com forte engajamento dos usuários e apontado como o próximo a ter uma criptomoeda própria.
Movimentos como esse são um passo interessante dessas empresas rumo à criptoeconomia. Pode começar com um escopo um pouco mais limitado, como é o caso de fidelidade, mas é uma jornada que tem tudo para se tornar maior e conectar a uma realidade de Web3 mais ampla e de finanças descentralizadas
, disse.
*Valor