Comando da empresa admitiu que cometeu erros de análise e teve um período de março a abril pior que o esperado
A varejista informou que “retomou de forma mais dinâmica o processo de avaliação da rentabilidade das suas operações” e decidiu fechar algumas unidades, principalmente aquelas que poderiam ser absorvidas pelo parque de lojas, resultando em maior eficiência, com aumento de venda por metro quadrado e redução de custos”, relatou em material de resultados.
“Quando você faz esses ajustes de estrutura, você tem custos altos pontuais e na sequência há melhora estrutural [de resultados]”, disse Fabio Faccio, CEO do grupo, durante o encontro “Investor Day”.
Foram fechadas 20 unidades nos três primeiros meses de 2023, das quais 13 da Camicado, quatro da Renner e três da Youcom.
Ainda, especificamente no segmento de casa e decoração, houve efeito da queda mais acentuada da demanda passada a pandemia. “Fizemos um movimento mais relevante na Camicado, sempre fazemos ajustes, mas agora mais relevante, mantendo aborção da venda [da loja fechada] em uma loja próxima. Vimos após a pandemia queda [na venda] e esperamos para ver se retomaria, e então decidimos agora que era preciso rever”, afirmou.
“O fluxo nessas lojas não voltou e não tinha cara de que voltaria”, disse Daniel dos Santos, diretor financeiro.
A rede não relatou número de demitidos, mas disse que parte foi realocada e parte deixou a empresa.
No ano, a companhia tem prevista a inauguração de cerca de 15 a 20 lojas Renner, sendo 75% em novas praças, 10 a 15 Youcom e cinco Ashua.
Sobre o balanço do trimestre, a companhia disse que ainda terá despesas mais altas no segundo trimestre por causa do novo centro de distribuição, em operação total em 2022, em Cabreúva (SP) — de janeiro a março as despesas com vendas, gerais e administrativas subiram 8,8%, versus uma alta de receita líquida de 2,2%
A participação dessas despesas sobre a receita líquida de varejo cresceu (de 41,7% para 42,7%) ante o mesmo trimestre do ano anterior, principalmente em razão dos menores volumes vendidos.
A Renner acredita que ainda consegue fechar o ano com margem bruta em ligeira alta, por conta dos resultados na segunda metade de 2023, quando acredita que deve ter melhora em demanda e colher resultados da revisão estratégica.
Inadimplência, juros e custos
Sobre inadimplência, a diretoria financeira disse que ela “segue elevada” e não é mais efeito de pandemia. A taxa de contas em atraso com mais de 90 dias subiu 0,8 ponto — o material de resultados informa a alta, mas não a taxa em si.
Da carteira total, o volume de vencidos subiu de 22,1% de janeiro a março de 2022 para 28,3% em 2023 — a perda líquida cresceu de 3,5% para 5,6%.
“Não existe mais efeito da safra de anos anteriores, de 2021, de 2022, é uma situação “macro”, disse Santos, reforçando que projeta melhora com o avanço do projeto do governo chamado “Desenrola”, voltado a renegociação de dívidas.
Ele ainda disse que a Renner sente dificuldade de fazer a carteira girar para cliente que é bom pagador, ou seja, atrair de volta aquele que fez compras parceladas, mas paga em dia, e que está resistente a gastar mais.
As despesas financeiras, de janeiro a março caíram quase 29%, mas resultado financeiro líquido ainda piorou, afetado pela taxa Selic, passando de R$ 17 milhões positivos um ano antes, para negativo em R$ 15 milhões.
Dificuldades no ano
Ainda nesta quinta-feira, o comando disse que as vendas de janeiro a março foram impactadas porque a rede começou a trabalhar a coleção inverno (decidiu neste ano não ter coleção de transição após o verão), e as temperaturas médias ainda ficaram em patamares elevados, e superiores ao esperado pela companhia, portanto, a coleção de inverno sentiu esse efeito.
Os problemas na empresa em relação a essa estratégia de vendas começaram em função das menores vendas do quarto trimestre e do alto estoque formado na época.
Preferiu-se, então, reduzir esse estoque, não ter coleção de transição forte (que possui itens de meia estação) e antecipar a entrada de produtos de inverno — num cenário de temperaturas ainda altas e consumidor arredio a tabelas de preços “cheios”, o que acabou afetando as vendas.
A Renner repetiu a estratégia de 2022, quando isso funcionou.
No fim desse processo, houve falta dos produtos de meia estação, que tiveram demanda maior no período, dada a extensão das temperaturas mais elevadas ao longo de todo o mês de março.
Além disso, a maior quantidade de lojas novas em um cenário desafiador de vendas, geraram queda na alavancagem operacional (relação entre lucro e receita).
Com o cenário de vendas mais pressionado, a companhia intensificou ações para ajustes nas despesas das operações, as quais em um primeiro momento resultaram em despesas adicionais, e cujos resultados positivos deverão se refletir nos meses seguintes, disse. Parte dessas despesas são fechamentos e demissões já mencionados pela cadeia pela manhã.
A companhia fechou lojas da Camicado com resultados abaixo do esperado.
Essas ações de avaliação de rentabilidade em lojas impactaram o trimestre em despesas não recorrentes na ordem de R$ 16 milhões.
Melhoras são esperadas por causa da redução nos custos de matérias-primas, que pode melhorar margem bruta, e efeitos do câmbio com a valorização do real — os benefícios deverão ser percebidos gradualmente ao longo dos próximos meses, disse Faccio.
A empresa ainda ressaltou que tem uma equipe “caçando” melhora em custos e despesas no ano.
*Valor