Pesquisa foi feita pelo Instituto do Coração
Algumas histĂłrias contadas por pacientes que se recuperaram da covid-19 merecem atenção. De acordo com a AgĂŞncia Brasil, sĂŁo cada vez mais frequentes relatos como “Dormi em pĂ© tomando banho”, “meu marido sofreu traumatismo craniano enquanto andava de bicicleta e dormiu”, “lembro-me de fazer o pedido da comida e de pagar por ele, mas nĂŁo me lembro de ter comido”.
Dados mostram que essas sequelas não acontecem somente em pessoas que sofreram a doença no estágio mais grave. Pacientes que tiveram coriza ou outros sintomas mais leves e até mesmo os assintomáticos também foram diagnosticados com disfunção cognitiva em algum grau.
Um levantamento inédito feito pelo Instituto do Coração (InCor) monitorou como a Covid-19 pode deixar sequelas no cérebro, revelando que a maioria dos pacientes infectados (cerca de 80%) apresentaram dificuldades de atenção, algum grau de perda de memória e também diminuição da coordenação motora.
A recuperação fĂsica nem sempre implica na recuperação cognitiva
De acordo com a neuropsicĂłloga LĂvia Stocco Sanches Valentin, coordenadora do estudo, os resultados mostram que a recuperação fĂsica nem sempre implica na recuperação cognitiva.
– Isso deixa clara a importância de se incluir na avaliação clĂnica dos pacientes pĂłs-covid-19 de qualquer gravidade sintomas de problemas cognitivos como sonolĂŞncia diurna excessiva, fadiga, torpor e lapsos de memĂłria, para que, com o diagnĂłstico precoce, possa haver uma rápida intervenção terapĂŞutica – explica LĂvia.
A jornalista VirgĂnia Martin, de Niteroi (RJ), conta como sua memĂłria, que ela descreve como uma boa ‘máquina’ anteriormente, foi afetada apĂłs ela passar pela Covid-19.
– Fui infectada pela Covid-19 em setembro e tive uma alta inflamação que provocou trombose e pneumonia. Precisei tomar anticoagulantes por quase 2 meses. Hoje, apĂłs 4 meses, infelizmente, tenho sequelas gastrointestinais e de perda da memĂłria. Minha mente que era uma máquina de guardar informações passou a ser vulnerável a esquecimentos constantes. Já atĂ© pensei que estava com um Alzheimer em evolução. Esqueço o nome das pessoas, esqueço como se escreve tal palavra, esqueço se fiz alguma coisa determinada ou nĂŁo, como tomar um medicamento ou almoçar. Pior, esqueço de algo que alguĂ©m jura que me disse (risos). Tenho falta de atenção e de raciocĂnio lĂłgico. Ou seja, estou preocupada. Meus mĂ©dicos dizem que vai passar, mas que preciso acelerar o processo com exercĂcios fĂsicos (que oxigenam o cĂ©rebro), exercĂcios cognitivos, (como fazer palavra-cruzada), estudar e ler muito e comer alimentos saudáveis e que nĂŁo inflamem meu organismo, como leite, açúcar e farinhas. Tenho esperança de que um dia eu volte a ser como eu era – conta.
Minha mente que era uma máquina de guardar informações passou a ser vulnerável a esquecimentos constantes
Alguns exercĂcios especĂficos, de fato, podem reverter o quadro e sĂŁo sugeridos pelos mĂ©dicos.
– A gente sugere que se faça exercĂcios aerĂłbicos e de concentração simples, como yoga, pilates. E tambĂ©m aqueles que estimulem o cĂ©rebro”, explicou LĂvia Stocco Sanches Valentin.
Miriam Froes, moradora de Lins (SP) e com 58 anos, também dividiu seu relato com o Pleno.News. Ela contraiu a Covid-19 em outubro com praticamente todos os sintomas comuns da doença: fraqueza excessiva, muita doe de cabeça, dor nos olhos, tosse seca, diarreia, ânsia de vomito, falta de ar. Miriam fez uso do protocolo de ivermectina e azitromicina, sentindo significativa melhora nos sintomas. No entanto, logo após ser curada, houve diferenças notáveis na sua cognição.
– Custei a entender o que estava acontecendo, depois de uns dois meses ou talvez uns 45 dias, percebi que minha mente estava oscilando muito. Logo que me recuperei da covid, tive muita insĂ´nia e percebi que minha memĂłria tinha lapsos. Coisas corriqueiras como ir de um cĂ´modo a outro em casa e nĂŁo lembrar o que eu ia fazer. Fui pesquisar a respeito de outros casos e descobri que se trata de uma sequela pĂłs-covid. Eu sempre fui muito ativa e dinâmica e percebo que nĂŁo tenho o dinamismo de antes. Tenho lutado todos os dias para voltar Ă normalidade – relata.
Miriam também conta que, além da perda cognitiva, ela está com uma excessiva queda de cabelo.
A neuropsicĂłloga LĂvia destaca que, mesmo apĂłs se curar da Covid-19, Ă© necessário ter atenção com certos sinais.
– Fique de olho se apresentar sonolĂŞncia excessiva diurna, falha na memĂłria e confusĂŁo mental. Ou se começar a tropeçar com facilidade – aponta.
Nesses casos, procure um neurologista. Quanto antes a reabilitação for iniciada, maiores as chances de ser bem-sucedida.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) aguarda os resultados finais do estudo para adotar a metodologia desenvolvida na pesquisa do InCor como padrão-ouro em âmbito mundial no diagnóstico e na reabilitação da disfunção cognitiva pós-covid-19.
Fonte: Pleno News