Essa baixa quantidade de anticorpos também deixa em aberto a possibilidade de a Coronavac ser menos eficaz, ou mesmo ineficaz, contra as novas variantes
Considerando que milhões de pessoas já foram vacinadas com a Coronavac, é preocupante que os resultados do ensaio clínico feito no Brasil ainda não tenham sido publicados. Agora, pesquisadores do Chile e da Sinovac publicaram os resultados interinos coletados no estudo de fase 3 realizado no Chile.
O estudo descreve a segurança da vacina e a resposta imune dos vacinados. Ele é pequeno, ainda não foi revisado por pares, mas indica o que devemos esperar dos resultados obtidos no Brasil. Ele contém dados sobre a resposta imune dos vacinados, algo que o Butantan ainda não divulgou.
O estudo envolve 434 pessoas, mas os estudos de imunogenicidade foram feitos em só 190 voluntários. Desses, 173 tinham de 18 a 59 anos e 17 tinham 60 anos ou mais. Entre os mais jovens, 132 receberam a Coronavac e 41, um placebo. Entre os mais velhos, 14 receberam a vacina e 3, um placebo.
O resultado que chama a atenção é que a Coronavac não gera anticorpos contra a proteína N, apesar de essa proteína estar presente na vacina. Esses anticorpos são produzidos em abundância quando as pessoas são infectadas pelo Sars-CoV-2.
Anticorpos contra a proteína N são os anticorpos medidos nos ensaios sorológicos para saber se uma pessoa já foi infectada. Não se sabe o papel desses anticorpos na proteção contra o vírus. De prático, isso significa que os testes sorológicos de rotina não são capazes de identificar pessoas que tomaram a Coronavac.
O segundo resultado se refere aos anticorpos gerados contra o RDB (o Receptor Binding Domain), que é a ponta da espícula do coronavírus, a parte que ele usa para se ligar às células humanas. Os cientistas acreditam que esses são os anticorpos mais importantes, pois um subgrupo desses anticorpos é capaz de bloquear a entrada do vírus na célula humana. As vacinas da Moderna e Pfizer são desenhadas para gerar esse tipo de anticorpo.
A boa notícia é que a Coronavac induz a produção desses anticorpos tanto em pessoas mais jovens (18-59) quanto nas mais idosas (60 ou mais). Os jovens produzem esses anticorpos após a 1ª dose, mas os mais velhos somente a partir da 2ª dose. A quantidade desses anticorpos é alta (eles podem ser detectados mesmo após diluir o soro mil vezes), mas bem menor que a gerada nas vacinas de mRNA.
Finalmente, os cientistas mediram a presença de anticorpos neutralizantes, aqueles que são capazes de bloquear a entrada do vírus na célula humana. A Coronavac também é capaz de gerar esses anticorpos tanto em jovens como em pessoas mais velhas, mas a quantidade gerada é muito baixa pois eles deixam de ser detectados se o soro for diluído mais do que 16 vezes.
Os cientistas tentaram medir a resposta das células T em pessoas vacinadas, mas os resultados, apesar de positivos, não parecem ser suficientes para concluir que a Coronavac produz uma resposta celular potente.
A conclusão é de que os vacinados no Chile com a Coronavac possuem os anticorpos necessários para combater o Sars-CoV-2, mas em baixa quantidade, o que está de acordo com a baixa eficácia da vacina (50%). Essa baixa quantidade de anticorpos também deixa em aberto a possibilidade de a Coronavac ser menos eficaz, ou mesmo ineficaz, contra as novas variantes.
De qualquer modo, a Coronavac é segura e, apesar dessas características, deve ser tomada por todos assim que possível. No futuro, ela provavelmente será substituída por vacinas que oferecem maior proteção.
*Estadão