Velocidade da internet nas agências bancárias vai avançar 100 vezes; segunda executiva do banco, rapidez da rede vai permitir a oferta de serviços financeiros mais aprimorados na região
O Bradesco fechou um contrato com a Starlink, do bilionário Elon Musk, para contratar internet rápida por satélite para atender agências bancárias no interior do Estado do Amazonas. A operação vai envolver também a Sencinet, empresa que atua como integradora de soluções digitais.
A internet satelital começou a ser ativada a partir de junho nas agências de Tefé, Carauari, Benjamin Constant e Tabatinga e, ainda neste mês, vai chegar também a São Gabriel da Cachoeira, na fronteira com a Colômbia. Futuramente, outras unidades serão cobertas com o mesmo tipo de tecnologia.
O Bradesco tem 2.679 agências bancárias em operação no País, mas em cerca de 50 localidades ainda há carência de internet rápida, sendo a maioria delas nas regiões Norte e Nordeste.
A expectativa com a contratação da Starlink é que as transações online passem a ocorrer de forma mais rápida, afirmou a diretora executiva de TI do Bradesco, Walkiria Schirrmeister Marchetti, em entrevista ao Estadão/Broadcast.
Contratação de Starlink vai dar mais velocidade nas transações Foto: Dado Ruvic/Reuters
“Nós procuramos investir massivamente na melhor tecnologia disponível para dar suporte às operações. A fibra ótica é o estado da arte em termos de desempenho de conectividade. Mas não temos fibra em todo o País”, diz Marchetti, justificando a contratação da internet por satélite.
Com o novo contrato, a velocidade da internet nessas agências bancárias vai saltar de 2 mbps para 200 mbps, em média, um avanço de 100 vezes. Por sua vez, a latência (tempo de resposta entre os dispositivos), vai baixar de 600 milissegundos para 50 milissegundos.
“Esse aumento de velocidade é absolutamente fundamental. Isso nos permite evoluir na oferta de serviços financeiros mais aprimorados, que exigem mais banda de internet. Conseguiremos dar o mesmo atendimento no interior do Amazonas que damos na região da Avenida Paulista”, compara a executiva. “O PIX, que pra gente já é tão simples, lá nessas localidades demora um pouco mais para cair na conta”.
A agência no município de Tefé, com 60 mil habitantes a 500 km de Manaus, foi a primeira atendida pela Starlink. Para o Bradesco, é um avanço estratégico para reter a clientela, dado que cerca de 50% do público bancário da cidade já têm conta na instituição financeira.
Isso permite uma comunicação mais rápida em comparação com os satélites geoestacionários, que orbitam a Terra a uma distância de 36 mil km da superfície - era esse tipo de operação que o Bradesco usava até então nas cidades mais distantes e que será mantida como alternativa reserva em caso de falhas.
O diretor executivo de vendas e marketing da Sencinet, Jayme Ribeiro, diz que essa distância mais curta resulta em uma transferência de dados bem mais rápida. “Usar os satélites de baixa órbita possibilita uma velocidade até 100 vezes maior do que o sistema utilizado atualmente, como também pode ser utilizado como contingência em locais que têm fibra ótica sem opção de segundo link com alta performance”, afirmou.
A Starlink faz parte da SpaceX, empresa de exploração espacial de Musk. O serviço vem ganhando mercado por oferecer internet de qualidade em zonas remotas, como cidades do interior do País, em áreas rurais e florestais. Aí há carência de internet fixa por fibra ótica e também de redes móveis 4G e 5G.
Em avaliação
O Itaú Unibanco iniciou em março testes de conexão com a rede Starlink em uma agência bancária localizada na zona norte do Rio de Janeiro. Também foi feito em parceria com a SC Caprock, operação brasileira do grupo Speedcast, que tem um acordo global para a venda dos serviços corporativos da Starlink.
“Até o fim deste ano, devemos ter mais algumas unidades testando esse tipo de conexão. No momento, não temos planos de trabalhar com alta escala, mas sim de testar como esse novo formato pode complementar nossa malha de conectividade”, disse o diretor de Tecnologia do Itaú Unibanco, Fábio Napoli.
O executivo acrescentou que o satélite de baixa órbita se comporta de forma semelhante à fibra ótica, mas com o diferencial de ser mais maleável e de fácil implantação. Além disso, por ser uma tecnologia nova, há a possibilidade de evoluir no médio e longo prazo. “Enxergamos potencial para trabalhar com essa alternativa de forma complementar aos demais formatos de conexão, sobretudo em um país com dimensão territorial, como é o Brasil.”
Starlink no Brasil
No Brasil, a Starlink recebeu autorização da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) em janeiro de 2022 para operar 4,4 mil satélites de baixa órbita sobre o território do País. O serviço por aqui sai por uma mensalidade a partir de R$ 230 (sem impostos), além do equipamento, que custa a partir de R$ 2 mil, de acordo com o site da empresa. Os valores envolvendo Bradesco e Itaú não foram revelados pelas partes.
Além dos planos de varejo e corporativos, a multinacional vinha conversando com o governo sobre a hipótese de atuar no monitoramento da Amazônia e participar do plano de conexão de escolas públicas. Musk e Bolsonaro se encontraram aqui ano passado para discutir esses planos. Na ocasião, foi acertado um projeto-piloto para atender três escolas do Amazonas por 12 meses.
O Ministério das Comunicações informou ao Estadão/Broadcast que não há outras parcerias firmadas com a empresa, o que depende de licitação dentro das regras legais e de transparência. Além da Starlink, também operam com a tecnologia no País a Swarm, a Kepler e a Telesat. A pasta ressaltou ainda que considera os satélites de baixa órbita “fundamentais para compor o backhaul (‘espinha dorsal’) de antenas 5G instaladas no interior do País, oferecendo as vantagens da nova geração de redes móveis para toda população brasileira.
A Starlink também virou notícia neste ano, por cair em mãos erradas. As antenas da empresa foram apreendidas em garimpo ilegal na Terra Yanomami, conforme noticiado pela agência Associated Press. Os equipamentos foram encontrados durante operações do Ibama e da Polícia Rodoviária Federal, na Floresta Amazônica, e eram usados como ferramenta de comunicação e meio de transferência de dinheiro pelo crime.
A diretora executiva de TI do Bradesco, Walkiria Schirrmeister Marchetti, disse que nos seus contratos os equipamentos pertencem às operadoras, não ao banco. Segundo ela, o Bradesco já reforça a sua segurança patrimonial por conta própria, mas o assunto também deve ser tratado no âmbito da segurança pública. “O mundo é complicado, se rouba tudo, de cabo de cobre a antenas. É questão de polícia.”
*Estadão